A relação íntima entre a língua árabe e o português existe, literalmente, desde o início. Quando o árabe se espalhou como vento pelo Saara, carregado pelo Islã, ele se misturou com as diversas línguas que encontrou. Ele absorveu os falantes de latim do norte da África e se misturou com as variantes latinas da Península Ibérica, ao longo dos seus 700 anos de domínio político e de convivência com os demais povos da península. Um dos vários filhos desse encontro foi a língua portuguesa.
Mais tarde, na Era Europeia das Navegações, os portugueses ocuparam rotas comerciais no Oceano Índico que já eram praticadas por árabes, swahilis, indianos e outros, levando às trocas culturais correspondentes. Foi nessa época que o nome de um importante centro comercial na costa do atual Omã, a cidade de Masqaṭ (مسقط), ocupada durante 150 anos pela Coroa Portuguesa, entrou na nossa língua como “mascate”. Aqui, a palavra sempre se referiu à atividade comercial – às vezes ao comércio de porta-em-porta dos caixeiros, às vezes aos grandes comerciantes, como os holandeses da Guerra dos Mascates em Pernambuco.
A língua e cultura árabes também se fizeram presentes no Brasil através do sequestro e tráfico de negros escravizados da África, muitos dos quais eram praticantes da religião muçulmana e compuseram, assim, o Islã Negro no país. Eles também eram conhecidos como malês e encabeçaram na cidade de Salvador sua primeira jihad – uma guerra santa pela sua libertação.
Ainda mais tarde, no século XIX, diversos imigrantes da região do Levante – entre cristãos, muçulmanos e judeus; entre sírios, libaneses e palestinos – fugiram dos conflitos do Império Otomano e vieram começar uma nova vida no Brasil. Um dos nomes pelos quais eram chamados era essa velha palavra de origem árabe, que os unificava não por nacionalidade ou por religião, mas pelo tipo de atividade com a qual sobreviviam aqui: o comércio, pequeno e grande, que foi moldando nossa sociedade cada vez mais urbana. Hoje, na arquitetura das nossas cidades, no sobrenome de muitos políticos e nas esfihas que comemos na esquina, os traços inconfundíveis dos mascates levantinos estão no tecido da nossa cultura.
São esses fios que a OBL destacou na sua décima primeira edição, de sobrenome “mascate”. Como os comerciantes, a olimpíada queria levar e trazer elementos exóticos e comuns, polinizar e salpicar e, assim, fazer mais viva dentro de cada participante a diversidade e a interdependência que tecem o mundo com motivos, adornos e cores vibrantes.
A primeira fase esteve disponível entre os dias 18 e 26 de setembro de 2021, de forma online. Foi realizada por mais de 4000 participantes de cerca de 900 escolas, em todos os estados da federação. As provas da categoria Mirim e das categorias Aberta e Regular contaram com 27 questões cada, distribuídas em três ciclos de dificuldade crescente (com 12 questões no ciclo I, 9 questões no ciclo II e 6 questões no ciclo III), cujas questões foram liberadas para resolução nos dias 18, 23 e 26 de setembro, respectivamente. A prova contou com questões comemorativas aos 10 anos da olimpíada, estratégias linguísticas de criação e interpretação de memes, e muito mais!
A segunda fase ocorreu no dia 16 de outubro de 2021 de forma virtual, contando com 222 participantes. Os participantes da categoria Regular resolveram problemas envolvendo ditados em jibbali, números em tibetano, adjetivos em hanunó'o, escrita cuneiforme, orações em cazaque e verbos em barapu. Por outro lado, os da categoria Mirim resolveram problemas envolvendo empréstimos no havaiano, ditados em jibbali, sentenças em mundari e números no sistema suzhou.
A partir desta prova foram distribuídas, para a categoria regular, 13 insígnias de papel (prêmio I), 37 insígnias de pergaminho (prêmio II), 37 insígnias de papiro (prêmio III) e 54 insígnias de palma (prêmio IV), além de celebrar 20 campeões estaduais. Para a categoria mirim, foram distribuídas 4 insígnias de papel (prêmio I), 7 insígnias de pergaminho (prêmio II) e 8 insígnias de papiro (prêmio III).
Foram convidados para a XI Escola de Linguística de Outono estudantes ganhadores de papel e pergaminho e campeões estaduais, mantendo igualdade numérica de gênero, totalizando 64 convidados. A ELO ocorreu entre os meses de março e junho de 2022, de forma híbrida. Os estudantes tiveram palestras e oficinas, online e à distância, atividades de integração e quatro atividades olímpicas: a Obelepédia, o Rolezinho Linguístico (mini-projeto de pesquisa), a Prova e os Debates.
Na Obelepédia, os alunos produziram, cada um, um artigo linguístico sobre uma língua específica para a Wikipédia lusófona. O Rolezinho envolveu pesquisas sobre processamento de palavras, aceitabilidade de colocações pronominais, ethos discursivo, análise computacional de textos jornalístico com posicionamento político, recursos discursivos da divulgação científica e estratégias atípicas de intensificação de palavras. Além disso, o Rolezinho contou com diferentes métodos de pesquisa, incluindo experimentos psicolinguísticos, coleta em corpora online, análise de textos orais e procedimentos de linguística computacional. A prova conteve problemas envolvendo substantivos e posse na língua kĩsêdjê, relações familiares em arara, morfologia e fonologia do kawaiwete e números em trumai e yudjá. Os debates tiveram como temas gênero neutro, epistemologia da ciência, pensamento privado ou público e universais linguísticos; ocorreram conversas iniciais a respeito dos temas, fichamento e análise de textos, e síntese escrita de cada grupo em relação às perguntas de debate. A partir das notas de cada uma dessas atividades olímpicas, além da nota de cada estudante na segunda fase, os 8 melhores colocados foram selecionados para representar o Brasil na Olimpíada Internacional de Linguística (IOL) de 2022.
A décima nona edição da IOL aconteceu entre 25 e 29 de julho de 2022, no King William's College, em Castletown, Ilha de Man. O Brasil participou com duas equipes:
Time Açaí
Time Guaraná
Em 2022, os problemas individuais versavam sobre a morfologia verbal em ubykh, sentenças em alabama, sintaxe da língua nǀuuki, relações familiares em arabana e mudanças históricas em palavras do protochâmico. A prova de equipes versava sobre análise de textos na língua manchu.
A equipe foi acompanhada pelos líderes Rodrigo Pinto Tiradentes, do Rio de Janeiro/RJ, e Natalia de Castro Bertti Guimarães, de Caçapava/SP.