Vivemos um momento único da história recente. A memória das pandemias no passado das diferentes sociedades, confrontada com as tecnologias recentes e com as necessidades sociais e ambientais pulsantes do nosso tempo, indica que o período atual gerará impactos profundos em como nos organizamos coletivamente, e também em como nos comunicamos. Ao mesmo tempo, podemos lembrar que períodos de recolhimento, ou mesmo de catástrofes, são temas comuns nas narrativas humanas, e são lembrados como momentos que antecedem grandes transformações e renascimentos.
Assim, a décima edição da OBL adota o sobrenome “Kubata”, que signifca ‘em casa’ na língua kimbundu, uma importante língua bantu falada na Angola e trazida para o nosso continente junto com os africanos escravizados. Neste momento em que o mundo lembra que #vidasnegrasimportam, é fundamental lembrarmos da história de como esse processo aconteceu, reconhecendo também exatamente como essas matrizes são parte constituinte do que veio a ser a língua e a cultura do Brasil.
O nome da edição se refere tanto à casa significando ‘refúgio’ ou ‘segurança’, nosso abrigo necessário neste momento de dificuldades e de redefinição de rotas, quanto à ‘nossa morada comum’, reforçando a necessidade de nos cuidarmos juntos, reconhecermos a interdependência que nos une e celebrarmos a diversidade de expressões na singularidade do planeta em que vivemos.
Neste ano atípico, a primeira fase da Olimpíada ocorreu em duas etapas: Fase 1A e Fase 1B, com uma nota de corte em cada uma.
A primeira fase A esteve disponível entre 30 de Setembro e 04 de outubro de 2020, e contou com cerca de 2600 participantes provenientes de 614 escolas (além da categoria aberta), de todos os estados da federação. A próxima etapa, a Fase 1B, ocorreu no dia 18 de Outubro de 2020, e contou com cerca de 970 participantes. Os 36 problemas de múltipla escolha, 24 da primeira etapa e 12 da segunda etapa, envolviam diferentes temas de língua, linguagem, cultura e cognição.
A segunda fase ocorreu no dia 7 de novembro de 2020 de forma virtual, contando com cerca de 250 participantes. Eles resolveram problemas envolvendo traduções entre árabe e swahili, verbos em sámi do norte, números em bretão, substantivos em tukano, sentenças em ainu e análise de texto no crioulo de Damão e Diu. A partir desta prova foram distribuídas 9 insígnias de papel (prêmio I), 28 insígnias de pergaminho (prêmio II), 38 insígnias de papiro (prêmio III) e 59 insígnias de palma (prêmio IV), além de celebrar 18 campeões estaduais.
Os estudantes ganhadores das insígnias de papel e pergaminho foram convidados para a X Escola de Linguística de Outono, que ocorreu entre os meses de fevereiro e maio de 2021, de forma remota. Entretanto, não impediu o espírito da ELO de se manifestar completamente. Os estudantes tiveram palestras, oficinas, atividades de integração e quatro atividades olímpicas: o rolezinho linguístico (mini-projeto de pesquisa), a resolução de problemas, as rodadas de debates, e a nova atividade olímpica, a Obelepédia!
Na Obelepédia, os alunos produziram, cada um, um artigo linguístico sobre uma língua específica para a Wikipédia lusófona. O rolezinho envolvia pesquisas sobre fonologia do falar mineiro, code-switching, sentenças ambíguas e gramaticalização. Além disso, nesta edição, o rolezinho contou com diferentes métodos de pesquisa, incluindo entrevistas sociolinguísticas, coleta de dados em redes sociais, experimentos psicolinguísticos e coleta em corpus diacrônico. A prova continha problemas envolvendo texto na escrita rejang, contagem do tempo em amárico, sentenças em bengali, e ortografia do islandês. O debate tinha como temas o ensino de segunda língua no Brasil, a pertinência do relativismo linguístico, a relação entre a língua e outros sistemas semióticos, e transformações linguísticas causadas pela pandemia de COVID-19.
Devido à pandemia de COVID-19, o Brasil não pôde participar remotamente da décima sétima edição da Olimpíada Internacional de Linguística (IOL).