Para sua décima segunda edição, a olimpíada retoma a metáfora do laço de sua primeira edição, a Kytã. Nesse caso, a palavra para nó, khipu, vem dos Andes, da língua quechua falada em boa parte dos territórios do Peru, Bolívia e Equador (e também em regiões fronteiriças da Colômbia, Argentina e Chile). Os Andes, uma das maiores cordilheiras do mundo, possuem uma grande diversidade linguística: das línguas timoteanas do norte da Venezuela, passando pelas populosas línguas aymara e quechua do altiplano central, e chegando no mapudungun do centro-sul do Chile. Khipu também é o nome de um sistema específico de cordas com nós usados durante o Império Inca, que não foi totalmente decifrado; sabemos que representava números e informações administrativas, mas possivelmente funcionava como um sistema completo de escrita! Isso tornaria os khipu um dos únicos sistemas de escrita que não é composto de riscos sobre uma superfície, mas nós em uma série de cordas.
Khipu, então, evoca a importância histórica do Império Inca (ou Tawantinsuyu, em quechua) na conformação política e étnica do nosso continente. Estendido como uma espinha dorsal ao longo do continente, esse império conformou decisivamente as estruturas sociais e culturais dos povos andinos, mas também de outros povos no Caribe, na Amazônia, no Cerrado, nos Pampas, que interagiam direta ou indiretamente com eles – antes de se ouvir falar de qualquer povo europeu por aqui. Essa rede de relações e movimentos segue viva hoje, por exemplo na forma da forte imigração de andinos para as cidades brasileiras nas últimas décadas, motivados por questões econômicas e trazendo junto, de presente para nós, muitos elementos da sua cultura e da sua maneira de ver o mundo. Fazendo um paralelo, é assim, com fluxos e laços enovelados, que a OBL procurou se mover nos últimos onze anos, unindo diferentes histórias, pessoas, descobertas, experiências e encantos, usando as culturas, as línguas e a mente humanas como fio. Com esses nós escrevemos o mundo.
A primeira fase esteve disponível entre os dias 26 de setembro e 03 de outubro de 2022, de forma online. Foi realizada por mais de 10000 participantes de cerca de 1200 escolas, em todos os estados da federação. A prova da categoria Mirim contaram com 18 questões, distribuídas em três ciclos de dificuldade crescente (com 9 questões no ciclo I, 6 questões no ciclo II e 3 questões no ciclo III). Já as provas das categorias contaram com 27 questões cada, também distribuídas em três ciclos de dificuldade crescente (com 12 questões no ciclo I, 9 questões no ciclo II e 6 questões no ciclo III).
A segunda fase ocorreu no dia 05 de novembro de 2022 de forma virtual, contando com 750 participantes. Os participantes das categorias Regular e Aberta resolveram problemas envolvendo orações em quechua, escrita desenhada para o toki pona (sitelen sitelen), horas em tailandês, substantivos em quechua e fábulas no crioulo de Guiné-Bissau. Por sua vez, os da categoria Mirim resolveram problemas envolvendo pronomes em walmano, escrita Nyiakeng Puachue e horas em tailandês.
A partir desta prova foram distribuídas, para a categoria regular, 12 insígnias de papel (prêmio I), 37 insígnias de pergaminho (prêmio II), 53 insígnias de papiro (prêmio III) e 151 insígnias de palma (prêmio IV), além de celebrar 20 campeões estaduais. Para a categoria mirim, foram distribuídas 14 insígnias de papel (prêmio I), 31 insígnias de pergaminho (prêmio II), 46 insígnias de papiro (prêmio III) e 68 insígnias de palma (prêmio IV), celebrando, também, 17 campeões estaduais. Por fim, para a categoria aberta, foram distribuídas 1 insígnia de papel (prêmio I), 9 insígnias de pergaminho (prêmio II), 4 insígnias de papiro (prêmio III) e 11 insígnias de palma (prêmio IV).
Foram convidados para a XII Escola de Linguística de Outono estudantes ganhadores de papel e pergaminho e campeões estaduais, mantendo igualdade numérica de gênero, totalizando 74 convidados. A ELO ocorreu entre os meses de fevereiro e maio de 2023, de forma híbrida. Os estudantes participaram de palestras e oficinas, online e presencialmente, atividades de integração e quatro atividades olímpicas: a Obelepédia, o Rolezinho Linguístico (mini-projeto de pesquisa), a Prova e a Assembleia.
Na Obelepédia, os alunos produziram artigos para a Wikipédia lusófona sobre línguas diversas, com destaque para os artigos do letão, cingalês, resígaro e língua de sinais de Adamorobe. O Rolezinho envolveu pesquisas sobre proteção da face aplicada a anúncios publicitários, funcionamento discursivo sobre “linguagem neutra”, processamento pronominal e correferencial, preconceito linguístico e estratégias não tradicionais de intensificação. Além disso, o Rolezinho contou com diferentes métodos de pesquisa, incluindo experimentos psicolinguísticos, testes de atitude, análise qualitativa e coleta de dados nas redes sociais. A prova conteve problemas envolvendo fenômenos de línguas do delta do Rio Níger (tons em kalabari, sintaxe do igala, morfologia do oko e números em bekwarra). A assembleia envolveu debates e construção de consenso em torno de temas como a diferença entre língua e dialeto, o ensino bilíngue nas escolas públicas brasileiras e a validade das línguas auxiliares internacionais; sua versão reformulada foi feita junto com a Sociedade de Debates Hermenêutica/UnB e a SiNUS 2023.
A partir das notas de cada uma dessas atividades olímpicas, além da nota de cada estudante na segunda fase, os 8 melhores colocados foram selecionados para representar o Brasil na Olimpíada Internacional de Linguística (IOL) de 2023.
A vigésima edição da IOL aconteceu entre 21 e 28 de julho de 2023, em Bansko, Bulgária. O Brasil participou com dois times:
Time Bem-te-vi
Time Quero-quero - (menção honrosa de equipes)
Em 2023, os problemas individuais versavam sobre a morfologia verbal da língua xinca de Guazacapán, sentenças envolvendo posse em apurinã, sintaxe da línguas marind da costa e de cree das planícies, e numerais em supyire. A prova de equipes versava sobre análise de textos (vocábulos num dicionário) em murrinh-pata.
A equipe foi acompanhada pelos líderes Artur Corrêa Souza, de Porto Alegre/RS, Rodrigo Pinto Tiradentes, do Rio de Janeiro/RJ, e Natalia de Castro Bertti Guimarães, de Caçapava/SP.