O tecido linguístico do Brasil é vasto. Muitos são os fios que se emaranham, atam e se enredam para tecê-lo. Nessa trama variada estão as línguas dos vários povos que, século após século, atravessaram e se assentaram em nosso território. Nesta edição, comemoramos o aniversário de uma passagem especial: em 2018, marca-se os 110 anos do início da imigração japonesa no nosso país.
O percurso de muitos imigrantes japoneses – assim como alemães, italianos, poloneses e outros povos – começou no campo, vindo inicialmente para os latifúndios, no cenário da recém-abolida escravidão. Com o tempo, eles abandonaram as grandes propriedades e estabeleceram comunidades rurais baseadas na agricultura familiar, as “colônias” – foi assim que se espalharam no Brasil espécies como caqui, abóbora cabotiá, tangerina poncã e pepino japonês. Além das plantas, floresceu ali o koronia-go , o “falar da colônia”, uma grande costura entre o português brasileiro, os dialetos de diferentes partes do Japão e as línguas ryukyunanas. É o falar que, hoje, muitos descendentes relembram nostalgicamente como uma referência aos antepassados, a como falavam seus avôs e avós – ou, de forma mais familiar, seus ditian e batian .
Nessa tessitura, o pronome pessoal português “eu” passou por uma intrigante trajetória. Incorporado ao koronia-go , sofreu modificações fonéticas e ganhou a forma “yo”. Neste novo ambiente, não poderia ter permanecido sozinho, no singular; combinou-se ao sufixo plural japonês “-ra”, formando o nome que porta essa edição da olimpíada: yora ( ヨラ), “nós”.
Em sua forma breve, yora entrelaça essas línguas distantes, expressando a própria formação das línguas e a manifestação das várias redes humanas. Os fios singulares, eus individuais, diversos em suas origens, particulares em suas cores, se entrecruzam e tecem uma trama única, um nós rico, complexo, fascinantemente plural.
A prova online esteve disponível entre 12 e 16 de setembro de 2018, e contou com cerca de 5.500 participantes, provenientes de 691 escolas (além da categoria aberta), de todos os estados da federação. Os 24 problemas de múltipla escolha envolviam diferentes temas de língua, linguagem, cultura e cognição.
A segunda fase ocorreu no dia 24 de novembro de 2018, em 48 pólos espalhadas pelo país e em outras aplicações locais. Cerca de 1200 participantes resolveram problemas envolvendo as direções cardeais na Ilha de Malta, flexões nominais em romeno, formação de palavras em iorubá, análise de texto em catalão, evidencialidade em tuyuka e o sistema de escrita javanês.
A partir desta prova foram distribuídas 15 insígnias de papel (prêmio I), 50 insígnias de pergaminho (prêmio II), 134 insígnias de papiro (prêmio III) e 179 insígnias de palma (prêmio IV).
Os estudantes ganhadores das insígnias de papel e pergaminho foram convidados para a VIII Escola de Linguística de Outono, que ocorreu entre 13 e 19 de maio de 2019, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Lá os estudantes tiveram palestras, oficinas, atividades de integração e três atividades olímpicas: a resolução de problemas, o rolezinho linguístico (mini-projeto de pesquisa) e as rodadas de debates.
A prova continha problemas envolvendo palavras em guarani mbya, números em tifal, sentenças em romani dos Cárpatos, e ortografia do irlandês. O rolezinho envolvia pesquisas sobre enunciados escritos nas paredes de banheiros, pressuposições e implicaturas, marcadores discursivos, intertextualidade em textos verbais e não-verbais. O debate tinha como temas políticas de valorização de línguas indígenas no Brasil, definição de palavra, a possibilidade da comunicação diante das variações individuais, e natureza vs ambiente na aquisição da linguagem.
A décima sexta edição da IOLaconteceu entre 29 de julho e 2 de agosto de 2019, na Hankuk University of Foreign Studies, em Yongin, Coreia do Sul. O Brasil participou com duas equipes:
Time Nhorõwa
Time Nhũrkwã
Em 2019, As questões individuais versavam sobre expressões em yonggom, cores de yurok, persa médio na ortografia pálavi dos livros, a reduplicação em tarangan ocidental, os dias da semana e dêiticos temporais em nooni. A questão de equipe versava sobre os símbolos usados pelos juízes na ginástica rítmica.
A partir deste ano, o Brasil passou a fazer parte do Hall da Fama da IOL, com os participantes Gustavo Palote da Silva Martins e João Henrique Oliveira Fontes, por terem recebido sua segunda medalha na IOL.
A equipe foi acompanhada pelos líderes Renata Tironi de Camargo e Roger Alfredo Antunes, ambos da UFSCar.